Texto: Lucídio Arruda - Fotos: Divulgação KTM / Zero Motorcycles
O mundo do esporte motorizado vive em constante evolução. No caso específico do motociclismo off-road já passamos por diversas revoluções. Novidades com maior ou menor impacto, mas que ao longo dos anos são adotadas por todos os fabricantes e passam a ser o padrão da indústria.
Uma das primeiras revoluções do Mundial de Motocross aconteceu com a adoção dos motores 2 tempos. É isso mesmo, no início da década de 60 as motocicletas eram todas equipadas com grandes e pesados motores 4 tempos de curso longo. Quando a primeira motocicleta 2 tempos apareceu no circuito, a grande maioria dos competidores - montados em suas possantes máquinas de origem inglesa - desdenhou da novidade. Poucos anos depois todos tinham se curvado à leveza, potência e simplicidade dos 2 tempos.
Outras revoluções que seguiram foram a do monoamortecedor traseiro (monochoque), refrigeração líquida, ignição eletrônica, suspensão invertida, quadros de alumínio... Recentemente com tecnologia emprestada da Fórmula Um e uma grande ajuda dos regulamentos os motores quatro tempos voltaram a ser o padrão nas competições oficiais.
Atualmente a revolução em curso é a da injeção eletrônica. As 450 japonesas da Suzuki, Honda e Kawasaki já estão disponíveis com a novidade. A espanhola Gas Gas foi a pioneira em seu modelo de Enduro desde 2006 (se não me engano). Não vai demorar muito para também se tornar padrão e obrigar aos preparadores e mecânicos a adotar uma nova ferramenta: o notebook.
Outra revolução que vai chegando de mansinho é a dos motores elétricos. Já há alguns anos pipocam protótipos de motocicletas elétricas aqui e ali. A grande maioria delas foi pensada a partir das bicicletas elétricas. Para o motociclismo off-road o primeiro passo foi a adaptação de bicicletas Mountain Bike.
Já a venda no mercado norte-americano existe a Zero X, fabricada pela Zero Motorcycle. Com uma bateria de íon-lítio de 300 amperes ela apresenta dois modos de programação na entrega de potência. Num deles a velocidade é limitada em cerca de 48km/h e faz a carga da bateria durar cerca de 2 horas. No modo "racing" todos os cerca de 23HPs do motor são liberados quase que instantaneamente.A Zero X pesa ao redor de 64 quilos e de olhar as fotos nota-se que ela parece mais com uma Mountain Bike do que propriamente com uma Motocross. O tempo de recarga da bateria é de 2 horas e com ela é possível percorrer até pouco mais de 60 quilômetros.
O preço da Zero X é de U$7.750 mais U$300 de frete, ou seja pouco mais que uma 450cc de cross (U$7.600 - U$7.800) lá nos Estados Unidos.
KTM Zero Emission
Semana passada a KTM divulgou fotos de sua "Zero Emission Motorcycle". Após um primeiro protótipo desenvolvido em conjunto com o instituto Arsenal Research, a fábrica austríaca decidiu investir mais seriamente no projeto programando a produção em massa para um futuro próximo. Entretanto a fábrica não arriscou nenhuma data para o início das vendas do novo modelo.
Propositalmente as fotos divulgadas são de ação e não mostram detalhes do coração elétrico do protótipo. A KTM tem o mesmo visual e componentes de suspensão e freios de seu modelo de enduro atualmente em linha. Todas as peças dispensáveis foram excluidas. Tanque, radiadores, filtro de ar, escapamento e embreagem sumiram. O peso aproximado é de 90kg, o mesmo da Enduro 125 em produção.
Uma das coisas que dá para reparar nas fotos é a roda traseira com pneu de perfil baixíssimo, possivelmente montado num aro de 21 polegadas, com o objetivo de aproveitar melhor a força do motor.
A KTM não divulgou nada de números referentes ao desempenho ou duração da bateria, mas o que empolga no projeto é que, ao contrário da Zero X, ele nasceu a partir de uma motocicleta de enduro/cross e é feito por uma indústria que domina as tecnologias das motocicletas off-road atuais.
Vantagens do futuro elétrico
A primeira vantagem que vêm à cabeça é a total ausência de emissões de gases. Logo em seguida vem a drástica redução da emissão de ruídos, talvez o recurso mais interessante dos modelos elétricos - um problema que as quatro tempos multiplicaram exponencialmente.
A (quase) ausência de ruídos permitirá a construção de pistas em lugares inimágináveis hoje em dia, o que facilitará em muito a prática do esporte. Só para ilustrar dois exemplos práticos que vivemos recentemente: na pista de São Lourenço da Serra, no interior paulista, os treinos durante a semana foram proibidos. A pista é vizinha a uma escola e o ruído estava desviando a atenção das crianças.
Em Itapecerica da Serra, também no Estado de São Paulo, um terreno num vale bem próximo ao centro da cidade foi disponibilizado para a construção de uma pista, mas o projeto até o momento não seguiu adiante pois ficou claro que problemas com a vizinhança surgiriam tão logo se ouvissem as primeiras aceleradas. Os motores elétricos eliminam praticamente em 100% os problemas com ruído.
Dúvidas sobre o futuro elétrico
Antes da adoção em larga escala os veículos elétricos ainda têm um bom caminho a percorrer. O primeiro grande problema é a autonomia, conseguir uma forma eficiente e de baixo peso para armazenar a energia é o principal desafio. Atualmente já seria possível uma corrida de 20 ou 30 minutos em circuito fechado. Já para um Enduro ou trilha ao redor dos 100km as coisas complicam bastante. Um Rally no estilo do Dakar seria impensável. Talvez com algumas toneladas de baterias...
Reabastecimento - Hoje em dia é possível encher um tanque de gasolina em poucos segundos com aqueles galões de sistema rápido. Sem pressa a operação de reabastecimento não dura mais que um ou dois minutos. Já a recarga da bateria leva pelo menos duas ou mais horas. Para recarregar na pista o primeiro problema será encontrar uma tomada elétrica. Qual a melhor solução? Um gerador a gasolina? Baterias sobressalentes?
Categorias - Com os motores à explosão a definição das categorias nas competições sempre foi bastente simples, simplesmente baseadas na capacidade cúbica de cada motor. Como definir as categorias entre as motocicletas elétricas? 12 e 24 volts? Pela amperagem? Ou pelo tamanho ou peso da bateria?
Pilotagem - Geralmente os motores elétricos tem uma distribuição de torque bem diferente dos motores à explosão. Toda a força do motor está disponível desde os mais baixos giros, assim como o motor atinge rotações bem mais altas, o que acaba por eliminar a necessidade do câmbio e consequentemente a embreagem. Isso mudará completamente os conceitos de técnicas de pilotagem atuais, onde aproveitar bem o câmbio e embreagem é fundamental.
Ecologia - A primeira vista os motores elétricos são bem mais limpos que os motores a explosão, já que não há emissão alguma de gases tóxicos e poluentes. Quanto a questão de poluição sonora não há o que comentar, o motor elétrico ganha disparado. Mas será que o motor elétrico é realmente mais ecológico? Em matéria de energia nada vem de graça em termos ambientais. Boa parte da energia elétrica mundial é fornecida por termelétricas a gás ou carvão (extremamente poluidor) ou por usinas nucleares que têm uma séria questão de segurança e geram resíduos altamente tóxicos praticamente eternos. Mesmo as usinas hidrelétricas, consideradas as mais limpas, alteram de forma significativa o ambiente onde são instaladas com inundações e migração ou mesmo extinção do ecossistema local.
Outra questão é o descarte das baterias. Ainda não inventaram uma bateria que dure para sempre e a geração desse lixo tecnológico com certeza é uma questão a ser trabalhada. Por outro lado o volume global de emissões das motocicletas off-road atuais, dois tempos ou quatro tempos, não chega a um nível de realmente prejudicar o meio ambiente ou ameaçar o futuro da humanidade.
Preço - Hoje em dia ainda é bem mais caro produzir um sistema de motor e armazenamento elétrico do que os normais a explosão. Mas acredito que isso é apenas um problema de escala. Quando os veículos elétricos entrarem em produção em massa a tendência é que se tornem até mesmo mais baratos.
Manutenção - A peça mais cara da moto elétrica possivelmente será a bateria. Uma bateria adicional da Zero X custa quase U$3.000! E o motor? Quais serão as peças de maior desgaste e trocas mais frequentes?
Adrenalina - Um dos grandes fatores de emoção nas competições é o ronco dos motores. Aquele som de quarenta motos aceleradas esperando o gate cair é inigualável! Quem já viu ao vivo sabe perfeitamente disso. Uma largada silenciosa traria uma emoção... diferente (para falar o mínimo). Espera aí, acabei de lembrar de meus tempos de infância e meu insuperável Autorama Estrela Interlagos. Ele tinha uma caixinha de som que imitava o ronco da Formula 1 acompanhando exatamente o gatilho do acelerador. Uau!!! Uma idéia fantástica, não é?
Mais informações: www.zeromotorcycles.com
2 comentários:
DeUs Q. mE pEr dOe.CrEdO!!!
Olha a DT melhorada aii
Postar um comentário