O que existe em comum entre o Mundial de F-1 de 2007 e esta temporada, além do fato de que quatro pilotos brigam pelo título e de que o destino da taça só deverá ser definido na última corrida, e por uma pequena margem de pontos?
A ausência de Michael Schumacher.
Quando se olha para o que aconteceu na F-1 nos últimos anos, é comum escutar que bons mesmos eram os tempos de Senna, Piquet, Mansell e Prost. São eles os quatro sempre lembrados para sustentar a tese furada de que Schumacher não teve adversários à altura, e que só por isso ganhou sete títulos mundiais.
“Correu contra ninguém” é o que mais se ouve daqueles que insistem em dizer que o alemão não foi o maior de todos os tempos, e que foram as circunstâncias que permitiram a ele construir uma carreira devastadora.
Há uma montanha de argumentos para refutar a afirmação. Senna, Piquet, Mansell e Prost foram, é claro, excelentes pilotos, campeoníssimos, idolatrados. Mas tirando o Mundial de 1986, aquele da famosa foto com os quatro no Estoril, na maioria das vezes as disputas eram em dupla, não em trio ou quarteto. Todos sabem que adversário de verdade para Senna foi Prost, e do francês Ayrton ganhou uma e perdeu outra, na McLaren, e voltou a vencer quando Alain estava na Ferrari. Àquela altura, Piquet e Mansell não corriam pelo título. Quando o inglês entrou na briga, em 1991, metade da temporada já tinha ido. De qualquer maneira, no último título de Senna, o adversário era igualmente um só, Mansell. Prost e Piquet estavam tão longe de ameaçar que o primeiro foi mandado embora antes da última corrida e o segundo pendurou o capacete no fim do ano.
Nelson e Nigel, por sua vez, se enfrentaram para valer quando corriam pela Williams, e naquela mesma temporada de 1986 perderam o campeonato para Prost numa situação muito parecida com a da disputa Hamilton-Alonso x Raikkonen no ano passado. Mansell seria batido por Piquet em 1987, talvez a maior conquista do brasileiro tamanhas as dificuldades internas no time, e quando foi campeão, em 1992, correu literamente sozinho — porque o carro da Williams era de uma superioridade de fazer corar as outras equipes, e seu companheiro Riccardo Patrese estava para o inglês como Barrichello esteve para Schumacher na Ferrari.
Portanto, não há demérito algum nas conquistas do tedesco de queixo grande. Ele enfrentou gente boa, sim, tanto que perdeu para alguns, como Mika Hakkinen, Jacques Villeneuve e o próprio Alonso. E muita gente esquece que pegou, no início de carreira, todos os quatro "mais lembrados" — Mansell, Senna, Prost, Piquet —, correndo pela Benetton, e venceu corridas com todos eles na pista.
Pois foi só tirar Schumacher do campo de batalha para que o equilíbrio voltasse. Massa, Hamilton, Raikkonen, Kubica — e Alonso, claro, assim que tiver algo melhorzinho nas mãos —, nos próximos anos, serão campeões. E se daqui a duas décadas aparecer alguém dominante de novo (desde que não seja brasileiro, claro, porque se for será o melhor do mundo em todos os tempos passados e futuros, como sempre acontece por aqui), olharemos para trás para reclamar: esse cara não tem rivais, bons mesmo eram Massa, Hamilton, Raikkonen, Kubica e Alonso.
São ótimos, é evidente. Mas cometem muitos erros, são irregulares, alternam grandes atuações com desempenhos risíveis, o que acontecia até com nosso quarteto histórico dos anos 80/90. Irregularidade que nunca foi a marca da trajetória de Schumacher. Que errava, porque todos erram, mas com freqüência muito menor. E, por isso, se impunha diante dos rivais fazendo com que todos parecessem autênticos pés-de-breque incapazes de sonhar com um lugar na galeria dos grandes da história.
Schumacher dominou a F-1 de 2000 a 2004 como só Fangio conseguiu em mais de meio século, reduzindo seus concorrentes a pó. E tal domínio não surgiu da noite para o dia, foram precisos quatro anos comendo grama na Ferrari, de 1996 a 1999, até que tudo se encaixasse, graças ao seu trabalho e esforço, para que a hegemonia se concretizasse. Aí ficou fácil apontá-lo como favorito, a F-1 tornou-se previsível, tamanha era sua segurança ao volante de um carro melhor que os outros — fruto, de novo, de milhares de quilômetros ralando em treinos para ter o melhor equipamento nas mãos.
No segundo ano pós-reinado de Schumacher, portanto, arriscar um palpite é meio perigoso. O normal, carro por carro, é dar Kimi ou Felipe, e acho que no frigir dos ovos, como escrevi aqui na semana passada, é o que vai acabar acontecendo. A Ferrari é rápida na maioria das pistas e as corridas que perdeu, perdeu porque fez bobagens.
Mas como 2008 tem sido um festival de trapalhadas, já não sei mais nada...
Fonte : Coluna Warm Up
sábado, 12 de julho de 2008
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